Três Palavras (Bárbara Mondego)
Três Palavras
Bárbara Mondego*
Raios de sol se esgueiravam pelas frestas da
janela, fazendo com que Mônica fechasse seus olhos. A claridade incomodava.
Rolou na cama até estar de volta com o rosto afundado em seu travesseiro.
Criava força de vontade para sair dali, mas era uma tarefa difícil. Depois de
muito relutar, levantou de sua cama, calçando seu chinelo e passando a mão pelo
cabelo.
Caminhou até o banheiro, lavou o rosto, fez um
rabo de cavalo, escovou os dentes. Parou para, realmente, observar seu rosto no
reflexo do espelho, enxergando duas grandes olheiras sob os olhos. “Meu deus,
como eu pareço cansada!”, pensou.
Aos poucos, continuou fazendo toda a sua
rotina matinal. Depois de tantos anos, aquilo vira algo até um pouco robótico.
Seu corpo realizava aquelas tarefas, mas sua mente estava longe.
Escutou os passos vindo do corredor, virou a
cabeça e viu Luiza entrar na cozinha, com os olhos inchados de sono e cabelo
bagunçado. Era estranho olhar para a filha daquele jeito, nunca cansava de
pensar no quanto ela havia crescido. Podia parecer bobeira de mãe, mas Mônica
se perguntava em qual momento aquela pequena menina em seus braços se tornou
aquela quase mulher à sua frente. Os anos se passaram e ela não notou.
Luiza sentou-se à mesa, preparando seu café da
manhã sem dar um pio. Aquilo irritaria Mônica se fosse em outro dia - “bom dia
pra você também!” - mas hoje ela não estava com vontade.
Acompanhou a filha, sentando-se em sua frente.
Bebia uma xícara de café (a primeira do dia), enquanto a garota comia um pedaço
de pão sem tirar os olhos de seu celular.
A mulher aproveitou para observar Luiza.
Tentava enxergar a menina que corria em sua direção com os olhinhos alegres ao
sair do colégio.
Deparou-se com uma expressão confusa no rosto
da filha.
- O que foi? Por que tá me
encarando?
- Nada.
A garota logo terminou de comer, indo para seu
quarto. Mônica olhou o relógio na parede, já prevendo que Luiza iria se
atrasar. Quis gritar para que ela não demorasse, mas de novo, aquele dia era
diferente.
Levantou-se para lavar a louça. Olhava pela
janela à sua frente, encarando o céu azul com poucas nuvens. Normalmente,
aquele era o momento em que ela repassava em sua cabeça o que precisava fazer
no dia, mas dessa vez deixou-se levar por outros pensamentos.
Recordava na memória a última vez que viajou
com Luiza. Sentia falta de tirar momentos como aquele para passar um tempo com
a filha.
Ela quase não viu a menina nas festas de fim
de ano. Luiza tinha passado o natal com o pai e no ano novo implorou para ir a
uma festa com os amigos. Mônica acabou passando essas datas com familiares, mas
sentiu falta da companhia da filha.
Foi para seu quarto terminar de se arrumar.
Parou na porta do quarto de Luiza. Quis bater, pedindo para que a menina se
apressasse. Mas desistiu.
Pegou sua bolsa, guardou a chave do carro,
carteira, lista de compras... Resolveu esperar a filha, sentada no sofá.
Aproveitou para ler as notícias, coisa que ela não fazia com tanta frequência por
falta de tempo.
Passaram-se alguns minutos, quando Luiza
correu em direção à mãe, com a mochila nas costas.
- Mãe, por que você não me
chamou? Eu estou atrasada! - A menina esbravejou.
- Não queria incomodar.
Mônica levantou-se do sofá, caminhando até a
porta. Sua filha a acompanhou, digitando furiosamente em seu celular.
As duas entraram no elevador. Silêncio. Luiza
estranhava a mãe. Estava esperando por uma bronca.
Chegaram ao estacionamento e foram até o
carro. Mônica observou a filha bater a porta com força, colocando seus fones de
ouvido. Ela riu, pensando em quantas vezes já tinha visto aquela cena.
Mônica dirigia com calma. Olhava tudo ao seu
redor: as ruas, as pessoas, os carros passando ao seu lado... Recebeu algumas
buzinadas de outros motoristas, mas não se irritou. Aproveitava a música que
tocava na rádio (uma que não ouvia há anos!).
Vez ou outra, quando parava no sinal,
aproveitava para olhar a filha. A menina, com os cabelos atrás da orelha,
mudava a atenção entre o celular e a janela. Não falava uma palavra, diferente
da criança tagarela que costumava ser.
Mônica estacionou em frente ao colégio de
Luiza, a qual já começava a se ajeitar para sair do carro. Aqueles momentos de
despedida eram sempre repletos de preocupações e perguntas por parte da mãe.
“Tem dinheiro? Me liga quando chegar em casa.”.
Lá no fundo, Mônica ainda sentia que a filha
era a mesma garotinha de sempre. “Será que ela vai ficar bem?”.
Era como se não quisesse que a filha
crescesse, ou talvez, não aceitasse. Queria que a menina continuasse a mesma,
que precisasse dela. Mas conforme o tempo passava, Luiza ia se afastando de
Mônica. Tornava-se independente, já não contava tudo que acontecia para a mãe,
não pedia mais tanta ajuda. Ao contrário, apenas respondia “mãe, me deixa!”.
Luiza abriu a porta, pronta para sair do
carro. Estranhava o silêncio da mãe, mas resolveu não questionar.
Mônica olhava a filha de canto de olho, sem
tirar as mãos do volante.
- Te amo, filha. – Disse baixo
- Também. – A menina respondeu,
sem olhar para a mãe.
Mônica viu Luiza caminhar até o portão, logo
encontrando com algumas amigas. Seus olhos se encheram de lágrimas. Não se
lembrava da última vez que havia dito aquelas palavras daquela forma.
Normalmente, costumavam sair no final de alguma frase, meio automático.
Luiza, parada próxima ao portão, não prestava
atenção no que as amigas lhe diziam. Olhava para o carro da mãe, tentando
entender o que podia ter acontecido. Ajeitou a mochila sobre o ombro, acenando para
a mãe.
Mônica se surpreendeu com o comportamento da
filha. A garota normalmente entrava no colégio sem olhar para trás, mas dessa
vez ficou esperando-a ir embora.
E, pelo retrovisor, via a imagem da filha
afastando-se. Luiza acompanhava o carro com olhos curiosos. Talvez ainda fosse
muito jovem para ver a mãe daquela forma, como uma pessoa como qualquer outra.
Como ela, também tinha dificuldade em dizer o que sentia.
Foi maravilhoso ter participado do curso! Quero agradecer a todos os meus companheiros de sala, que de alguma forma, me ajudaram a ir perdendo a insegurança na escrita. Um obrigado especial à Karen <3
ResponderExcluir<3
ExcluirBarbara⭐️, uma criação literária ou uma obra de arte☀️, quando fica pronta, é feito um bebê nascendo. É dia de comemorar a sua história. Grande bj e Parabéns. Lucia Felipe(da turma)
ResponderExcluirobrigada <3
Excluir