Prosa e poesia do Curso de Escrita Criativa





(foto de Edinéia Périco)


A Chave
(Helena Loureiro)

Uma mulher caminha em direção ao escritório no centro da cidade. Mais um dia de trabalho a espera. Observa os transeuntes apressados como faz cotidianamente. De repente, tropeça em uma pequena caixa. Recuperada do susto, abaixa-se, pega o objeto, abre a tampa e surpreende-se com o conteúdo: uma minúscula chave dourada pousada sobre uma almofadinha cor de cobre.
Antes de mais nada, ela olha ao redor, na esperança de poder ver alguém à procura de algo perdido. Sem sucesso, continua caminhando para o trabalho, pensando sobre o que faria com a caixinha encontrada. Queria entregá-la ao dono ou dona, mas como? Durante o dia todo sentiu-se incomodada com a posse do pequeno objeto que encontrara. A pequena chave parecia de ouro, devia ter valor material, quem quer que a tivesse perdido deveria estar a sua procura. Ainda mais que, acomodada naquela embalagem, possivelmente seria um presente. Que tristeza, chegar à ocasião e perceber-se que havia perdido o mimo...
Chegou o final da tarde e, no caminho de volta para casa, passou novamente no local onde tropeçara na pequena caixa. Ali parou e olhou, mais uma vez, o entorno, agora não mais buscando alguém que procurasse algo, mas observando as casas, lojas, edificações e também as pessoas presentes. Lembrou-se da pressa dos que andavam por ali naquela manhã – era uma rua de grande movimento, caminho para diversos pontos comerciais e postos de trabalho da cidade. Foi então que visualizou uma joalheria, a apenas alguns passos do local onde se encontrava. No mesmo instante, voltou à sua mente a imagem da garota que vira correndo, de longos cabelos castanhos, levando uma bolsa de pano a tiracolo. Na correria, trombou com um senhor que vinha em sentido contrário – que, aliás, ficou enfurecido por quase ter caído estatelado, não fosse a atenção de dois rapazes que correram a socorrê-lo.
Será que a moça havia deixado cair a caixinha enquanto corria? Ou o senhor, com a trombada? Voltou-se, então, em direção à joalheria, para perguntar se a pequena chave dourada teria pertencido ao acervo da loja. Apressou-se, agora ela, quase correndo, porque já eram mais de 18h e as portas do comércio estavam se fechando. Era muita gente para desviar...
Enfim, chegou. Arfando, afobada, mas era tarde demais: a loja acabara de fechar. Ainda bateu, mas nenhum funcionário se animou a abrir – receio de hora extra, cansaço... Paciência. Abre a bolsa, olha novamente para a caixinha e pensa: quem sabe, amanhã.

 
 
SORRISO (I)
(Azucena Oberdiek)
 
Um sorriso pode
mudar o clima 
mais que um temporal.

Um sorriso insinuado
pode desmascarar um engano
ou um drama.

Um sorriso?
um claro convite à vida.

SORRISO
Só riso?
            Sorri...
Ri disso?
isso aprendi
de Sor Riso.

SORRISO
Diferente...
um rosto tenso
que um sorridente
Diferente
quem mostra os dentes
que quem derrama luz
através do olhar sereno.

Trocando algo da Cecília Meireles:
Eu brinco
porque o instante existe
e a minha vida está completa....

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